Nesse sentido, o desafio inicial começou a ser paulatinamente “desfiado” entre os meses de junho e setembro de 2021, período em que se desenvolveram três residências artísticas nos municípios de Ansião, Pombal e Figueiró dos Vinhos, sendo que uma série de “iluminações” começaram gradualmente a surgir:
– A temática da pedra encerra um infinito conjunto de possibilidades, intuição que nasceu da disponibilidade da equipa para aceitar um princípio de “multivocalidade”, ou seja de vozes oriundas de uma diversidade de contextos, sejam os habitantes do território, os investigadores locais ou autores de textos científicos, filosóficos ou poéticos, as quais formariam uma densa textura de experiências e de ângulos de leitura.
– A materialização do conceito de “O cantar da pedra” deveria ser encarada de forma aberta, uma que incluísse as referidas múltiplas vozes sobre a pedra: de canteiros, de pedreiros, de calceteiros, de transportadores de brita, de construtores de muros em pedra seca, de escultores, de colecionadores de pedras, de membros das comunidades religiosas, de moleiros, de pastores, de geógrafos, de geólogos, enfim, de qualquer pessoa com interesse ou experiência nalgum aspeto passível de ser incluído na temática do projeto.
– Às vozes referidas atrás deveriam juntar-se outros “cantares”, como paisagens sonoras, por exemplo dos próprios trabalhos na pedra e um conjunto de interações sonoras levadas a cabo pela equipa do projeto e que consistiram em manipulações de contextos geológicos (rochas, buracas, pedras), de forma a que pudessem ser escutados alguns sons “adormecidos” ou “em potência” na própria paisagem.
– É legítima uma abordagem sinestésica no conceito de “O cantar da pedra”, uma que pudesse cruzar aspetos tácteis, visuais, sonoros, de pensamento etc., pelo que se decidiu incorporar, tanto no trabalho de campo como na criação final, uma camada de expressão plástica, da autoria de Mónica Garcia, que dialogasse com as restantes vozes e, como tal, acrescentasse outras camadas poéticas e de sentido.
Com base nos aspetos referidos atrás, concebeu-se a criação “O cantar da pedra”, a qual se materializou em dois elementos complementares:
a) um arquivo digital online com sessenta edições sonoras catalogadas, vinte relacionados com as gravações de campo efetuadas em cada município por Luís Costa, Nely Ferreira e João Farelo, disponível em https://www.cantardapedra.org.
b) uma exposição com três camadas de leitura compostas por uma instalação sonora a quatro canais da autoria de Luís Costa e João Farelo, um conjunto de intervenções plásticas da autoria de Mónica Garcia e um conjunto de painéis visuais desenhados por Liliana Silva que refletem os conteúdos do arquivo sonoro em linha. Tanto as intervenções plásticas como os painéis visuais ascendem a sessenta em cada exposição, vinte relacionados com o trabalho de campo em cada município.
Por último, a equipa do projeto agradece de forma empática a ajuda prestada pelas equipas da área de cultura dos Municípios de Ansião, Pombal e Figueiró dos Vinhos e por um vasto conjunto de pessoas que acederam a ser entrevistadas ou que mediaram contactos para que o trabalho de campo tenha sido o mais profundo possível:
Ansião: Mário Jesus, Ezequiel Carvalho, Arlindo Dias, Abílio Gomes, Teresa Ramos, Fernando Freire, João Paulo Forte, Saúl Simões, Cláudia Santos, Jaime Tomás, João Domingos, Maria Sá , Jacinta Dias, Padre Armando Duarte, José Dias e Raquel Fradique.
Pombal: Sónia Fernandes, Raquel Goucha, Diogo Moura, Ernesto Ferreira, Lourenço Monteiro, Manuel dos Santos, Lino Marques, Lúcio Marto, gerência e funcionárias do Restaurante Estrela de Sicó, Catarina Vieira, Manuel Fernandes, Fernando Amaro, Carlos de Jesus Maria e Manuel Branco.
Figueiró dos Vinhos: João Pedro Dias, Jorge Agria, Eduardo Abreu, Margarida Lucas, Manuela Santos, Manuel Ventura, António Lourenço, Rita Cabral, Paulo Dias, Carlos Simões, Carlos Baião, Bruno Batista e Albertino Torres.